Tekoa Jaexaa Porã “Alma Viva Guarani” será lançado no Folclore em Cena em Ubatuba

Publicado em: 10 de abril de 2017

O primeiro CD com cantos sagrados dos corais da comunidade guarani mbyá da aldeia Boa Vista de Ubatuba será lançado no dia 19 de abril de Praça de Eventos

Os cantos sagrados para Nhanderú, o grande deus criador de tudo para  cultura guarani, dos indígenas da aldeia Boa Vista em Ubatuba foram registrados pela primeira vez. O CD que encanta com as músicas tradicionais desse povo que vive no sertão Prumirim, comunidade localizada na região norte do município foi produzido pela Gopala Filmes e pelo Projeto Garoupa. O evento e o projeto é uma realização do Ministério da Cultura e Associação de Gestão Cultural no Interior Paulista “Prof. Gilberto Morgado” (AGCIP), através da Lei Rouanet, com patrocínio do Açúcar Caravelas – Grupo Colombo e conta com o apoio da Prefeitura Municipal de Ubatuba, da FundArt e da Seth Assessoria.

 O lançamento vai acontecer no dia 19 de abril, na Praça de Eventos em Ubatuba e integra a programação do Folclore em Cena e da Semana da Tradição Indígena. Os dois corais Xondaro Mirim Mborai e Nhamandu Nhemopuã irão se apresentar a partir das 14h, com a finalidade de mostrar ao público presente a cultura guarani que segue resistindo em meio as lutas pela sobrevivência. Jovens, crianças e adultos fazem parte dos grupos, e após a apresentação haverá também uma roda de conversa e um vivência da cultura indígena guarani mbyá.

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“Já algum tempo tínhamos a vontade de buscar parcerias, apoios, amigos que pudessem nos ajudar no registro de um CD com músicas somente dos nossos jovens da aldeia, para contar um pouco da nossa tradição, do nosso dia-a-dia”, pontua Marcos Tupã, uma das lideranças da comunidade, que coordena também a Comissão Guarani Yvyrupá. “Estes são os cânticos sagrados do nosso cotidiano, da nossa casa de reza, cantos que falam sobre a natureza, sobre as divindades, sobre o conceito guarani de busca pela terra sem males, a terra sagrada”, relata o indígena sobre a importância desse trabalho.

Tupã reforça também que o trabalho contribui para que essa música seja levada a outras comunidades da região e de países como Paraguai e Argentina, que também possuem povos da etnia guarani. “Nós estamos muito felizes de fazer uma gravação com essa geração de jovens e crianças, e de ter a participação de dois núcleos da aldeia. Agradeço a todos que colaboraram e estão contribuindo para que termos este material”, finaliza.

Confira abaixo a letra e a tradução do canto guarani que dá nome ao projeto do CD

Tekoa Jaexaa Porã

Aldeia Boa Vista (Airton Wera)

Ore Orekuay, Tekoa Porã

Tekoa Djavy’a , Tekoa Jaexaa Porã

Tekoa Pymã, Kyringue’i omônhendu’i

Mborai’i , Mborai’i , Mborai’i

Nhamandu Mirim Oendu Mavy Mboray’i

Ovyaete Odje Povera

Kyryngue’i Tove Katu

Nhanembaraete Mbya Guaxu

Tove Katu Ta Djavy’a, Tove Katu Ta Djavy’a

Nós somos de uma aldeia linda

Aldeia alegre, que se chama Boa Vista

Na aldeia, toda tarde as crianças cantam e dançam

Quando Deus ouve o canto fica alegre e relampeia

Crianças vamos nos fortalecer, com coragem e alegria

Alegria

“Orgulho de ser povo guarani”

“Eu acredito que temos que ensaiar muito para mostrar nossa cultura e nossos costumes de dançar e cantar”, pontua Valdecir Vera Mirim Benites, coordenador do Coral Xondaro Mirim Mborai e jovem liderança da comunidade. Segundo ele, os grupos já se apresentaram diversas vezes fora da aldeia, tanto para pessoas não indígenas quanto para outros parentes, como eles denominam os povos de outras aldeias.

Os ensinamentos passados de geração em geração dentro dos povos indígenas auxiliam para que os saberes dos cantos e das danças sagradas não se percam. “Eu aprendi com meu tio, desde criança, a fazer a dança do xondaro e a respeitar a cultura do canto”, conta Vera Mirim. “Sempre pratiquei com meu tio e com meus parentes e agora sou eu que estou ensinando as crianças a dançar e a respeitar as nossas culturas que são muito sagradas. Sempre me ensinaram, falaram, e estou muito feliz de ter recebido esses conhecimentos”, completa.

“É muito importante que a gente continue fazendo nosso ritos e costumes. Por isso eu estou ensinando as crianças para que não esqueçam a nossa cultura, nossa língua e os nossos cantos”, conta o jovem sobre a relevância de transmitir os ensinamentos aos pequenos. “Nhanderú que nos deu esses cantos, foi ele que criou essa terra em que estamos, ele que nos deu essa dança e essa religião”, afirma. Ele explica também que para o povo da sua etnia, as danças e os cantos sagrados representam a mata atlântica, bioma que permite a sobrevivência e a existência da comunidade.

 

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