Publicado em: 7 de maio de 2020
Logo após o a chegada dos portugueses ao Brasil, por volta de 1.550, a Ilha Anchieta era habitada pelos índios Tamoios e Tupinambás. Eles chamavam a ilha de Tapira, traduzido como “lugar calmo”. Os Tupinambás tinham como grande líder o cacique Cunhambebe, um personagem de extrema importância, pois nessa época ocorriam diversos conflitos com os portugueses colonizadores. Os Jesuítas missionários, José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, conseguiram uma aproximação com Cunhambebe, que resultou no famoso “Tratado da Paz de Iperoig”, firmado em dia 14 de setembro de 1563. A partir daí os portugueses puderam ter mais tranquilidade para a ocupação da colônia.
Foi iniciada então a ocupação da ilha, não só por portugueses, mas também holandeses, franceses e outros europeus. Viviam basicamente da pesca e da agricultura. Aos poucos o povoado da ilha foi se desenvolvendo, ganhando uma pequena igreja, vendo crescerem pequenos negócios e até um cemitério foi construído. Em 1885, a Ilha passou a ser denominada Freguesia do Senhor Bom Jesus da Ilha dos Porcos.
Em 1902 a Ilha era mais conhecida como Ilha dos Porcos, quando nela foi construída uma Colônia Penal. Para tanto, foram desapropriadas cerca de 412 famílias. Esta colônia viria a ser desativada em 1914, com os presos sendo transferidos para presídios de Taubaté; mas, em 1928 foi reativada e para abrigar os presos políticos do período da ditadura de Getúlio Vargas. Nesta época, além dos habitantes originais, passaram a morar na ilha os soldados e seus familiares.
A Ilha dos Porcos passou a ser denominada Ilha Anchieta em 1934 como parte das homenagens ao quarto centenário do nascimento do Padre José de Anchieta.
Em 1942 a antiga colônia penal se transformou no Instituto Correcional da Ilha Anchieta. As celas foram construídas de modo a formar um pátio retangular. Era nesse pátio que os presos se reuniam, tendo em volta as celas onde ficavam confinados cerca de 453 presos, todos de alta periculosidade.
Havia bastante animosidade entre grupos rivais, que se enfrentavam no pátio, e os cerca de 50 policiais tinham grande trabalho para conter estes conflitos. O principal líder dos presos era João Pereira Lima, o Pernambuco.
Um dia chega ao presídio para cumprir pena, Álvaro da Conceição Carvalho Farto, o famoso Portuga, um criminoso, mas também formado em engenharia e muito inteligente. Aos poucos o Portuga passou a influenciar os outros presos, estruturou a vida de todos dando funções específicas a cada um para organizar a vida interna, o que diminuiu os conflitos.
Mas as intenções do Portuga não eram bem essas. Tendo criado uma organização entre os presos, passou a arquitetar um plano para uma rebelião, que incluía a tomada do presídio e das armas que ficavam no quartel do Morro do Papagaio. Sob a influência do Portuga, os detentos passaram a ser mais cordiais e gentis, se aproximaram bastante dos policiais e até da população da ilha, num clima de confiança e paz que na verdade era o preparatório para o golpe.
O plano foi executado em 1952, numa batalha sangrenta entre presos e policiais. Mas um soldado conseguiu nadar até o continente e alertou as autoridades. Diversas guarnições se deslocaram para a Ilha, contendo a rebelião. Foram recapturados 129 presos; alguns, possivelmente tenham conseguido fugir em canoas. Outros tentaram fugir em barcos, mas a imperícia na navegação os fez caírem na água e ficado à mercê dos tubarões. O grande líder, Portuga, tinha problemas cardíacos e foi encontrado morto na Ilha.
No livro “Ilha Anchieta – Rebeliões, Fatos e Lendas” escrito pelo Tenente Samuel Messias de Oliveira, e que tem exemplares para consulta na Biblioteca Municipal Ateneu Ubatubense, narra com detalhes todo o desenrolar da rebelião e muitos outros fatos que fazem valer a pena a leitura.
Hoje em dia, a Ilha Anchieta mudou totalmente seu perfil, passando a ter sua fauna, flora e riquezas históricas protegidas pelo Parque Estadual da Ilha Anchieta. Na sede do parque, encontramos muitas informações e painéis fotográficos, monitores de turismo para trilhas ecológicas e culturais, e a pequena capela foi restaurada. As instalações do antigo presídio, em ruínas, atraem o público para viver a atmosfera onde aconteceram importantes fatos para nossa história. E além dos turistas, mergulhadores, pesquisadores e outros estudiosos procuram a Ilha Anchieta durante todo o ano.
O Parque Estadual Ilha Anchieta (PEIA) protege a segunda maior ilha do Litoral Norte de São Paulo. Possui 828 hectares, 17 km de costões rochosos e sete praias. Criado em 1977, o PEIA preserva e conserva os ecossistemas naturais, amplia o desenvolvimento de pesquisas e a realização de atividades de educação ambiental. Ao turista, oferece atividades como caminhadas, mergulho e contemplação da paisagem, além do patrimônio histórico do local, que conta com um presídio desativado.
Fonte: http://www.ilhaanchieta.com.br