Divina história: A Festa e a Folia do Divino de Ubatuba

Atualizado em: 6 de abril de 2020

Folia do Divino Espírito Santo – Jean Baptiste Debret

A Festa do Divino Espírito Santo é uma comemoração popular – das mais antigas e difundidas tradições do catolicismo. A origem dos festejos está ligada a data do Pentecostes, celebrado cinquenta dias depois da Páscoa, quando segundo a tradição católica, o Espírito Santo teria se descido sobre os apóstolos, que passaram a pregar as palavras de Jesus.

A Festa do Divino teve sua origem na então Vila de Alenquer – em Portugal – instalando-se definitivamente no arquipélago dos Açores. O estabelecimento da festa ocorreu ao longo do século XIV, quando a celebração foi instituída pela Rainha D. Isabel (1271-1336). A então rainha portuguesa determinou que durante a festa fosse coroado rei um menino, que alimentos fossem distribuídos entre os mais humildes e que alguns presos fossem soltos. Tudo isso porque o Divino iria imperar e cair sobre todos e a terra então viveria em fartura e perdão. Entre os diversos papéis a serem representados na celebração, havia o rei, o capitão da guarda, o alferes da bandeira e o pajem do estoque (uma espécie de tesoureiro). Outras manifestações populares que se integram à Festa do Divino, são apresentações de cavalhada, congada e danças como cururu, fandango e jongo. No Brasil, a festa foi trazida pelos açorianos no século XVI, e também acompanhou os açorianos que emigraram para os Estados Unidos, o Canadá e o continente africano.

Para a realização da festa era preciso arrecadar donativos. Esse papel era feito pelos foliões que percorriam fazendas recolhendo doações e esmolas para os preparativos do banquete. Os foliões alegravam a população com dança e música em troca de esmolas. As irmandades responsáveis por essas folias eram todas reunidas durante o banquete público, também conhecido como o “jantar para os pobres”.

Grupo de Folia do Divino de Ubatuba – Foto: Paulo Zumbi

Em Ubatuba, o mastro caminha e as mãos e vozes entoam cantos de reza que fazem a tradição centenária perpetuar na região litorânea. As famílias se mobilizam para receber os mestres, dotados de viola, rabeca e caixa. O grupo de foliões passa pelos bairros, praias, sertões, quilombos e morros. Casas pequenas e grandes, quintais e garagens esperam a chegada da tradição divina. Vestidos em trajes vermelhos, homens e mulheres de comunidades caiçaras diversas fazem parte do grupo. São ofertados aos grupos, almoço, cafés e jantares. Então depois da oração, as prosas afinam as relações, com os vizinhos reunidos e as saudades de tempos passados são relembradas.

Antigamente, as pessoas se preparavam uma semana antes para a chegada da Folia. Ninguém ia trabalhar ou pescar, devido a importância do evento. Como não existia estrada, a Romaria era feita por trilhas.

Com seus instrumentos em mão, a Romaria segue caminho primeiramente pela procura das casas de caiçaras, ou seja, das famílias mais tradicionais. Os instrumentos são: a rabeca – instrumento fundamental na folia – assim como, a viola, a caixa, e as vozes – que são três – chamadas de tripê ou tipe.

O grupo de foliões, composto por pessoas de várias localidades do município, realiza a abertura e o fechamento da tradicional Festa do Divino Espírito Santo de Ubatuba organizada anualmente pela Paróquia Exaltação da Santa Cruz no mês de julho. A peregrinação ocorre nos meses que antecedem a Festa e as visitas sempre acontecem aos finais de semana.

 

A cultura caiçara é levada por filhos e netos de

antigos foliões que manifestam a arte e a cultura

de um povo que resiste a tantas mudanças.

 

Antigo Grupo de Folia de Ubatuba

O folião mestre Pedro Victor (Pedrinho), 65 anos, cujo pai, avô e tios, chegaram a ser foliões, está na função de mestre da Folia há 15 anos. Mestre Pedrinho nasceu na Barra Seca e acompanha a Folia do Divino desde quando tinha 11 anos; todavia, teve que parar aos 18 anos – por necessidade – já que seu pai ficou doente, tendo assim que começar a trabalhar para cuidar de sua família. Ele nos conta que a tradição de fazer a peregrinação pelos bairros, fazendo as visitas pelas casas, acontece há 300 anos; levando o Espiríto da Santíssima Trindade para os lares de Ubatuba. “As pessoas gostam, até mesmo evangélicos que já foram católicos e conhecem a tradição, cantam com a gente”, conta Pedro.

Mario Ricardo de Oliveira (Mario Gato), pesquisador da cultura caiçara e rabequista na Folia do Divino, conta que há pouco mais de 40 anos, era comum duas folias em Ubatuba, uma do Norte e a outra do Sul. Ambas se encontravam e percorriam Ubatuba até a divisa de Paraty (Norte) e a de Tabatinga (Sul). A função da Folia, além de levar a palavra do Divino Espírito Santo, era arrecadar donativos pra um leilão, pra que assim pudesse ser realizada a festa.

 

Reunião entre FundArt e os dois Grupos de Folia do Divino de Ubatuba – 12/03/2020

Romaria do Divino 2020

Atendendo as medidas de prevenção e controle do Covid-19 a Romaria do Divino – tradicional visita as casas dos devotos, não poderá ocorrer este ano.

Em relação ao covid-19, Mario diz: “Todos sabem a importância de não sairmos, e como a Folia é uma manifestação que percorre todos os bairros do município, entre Tabatinga e Camburi, então é de extrema importância cancelar a Folia e fazermos a nossa parte como foliões. Ao mesmo tempo podemos fazer as rezas de casa, pedindo a proteção do Divino Espírito Santo pra essas famílias, e pra que tudo isso passe o mais rápido possível e possamos voltar à normalidade, é isso que a gente pede”.

 

 

 

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