Pedro Paulo – um caiçara cosmopolita

Publicado em: 1 de agosto de 2019

Foto: Paulo Zumbi

Pedro Paulo Teixeira Pinto nasceu na capital e veio morar na Ilha Anchieta antes de completar um mês de idade. Muitos, no lugar dele, tolamente, rejeitariam assumir-se caiçaras, diriam ser paulistanos. Ele não, ao contrário, tinha orgulho de ser caiçara. Talvez, devido a essa “dupla origem”, tenha inconscientemente buscado e conseguido ser um homem atento às questões locais, mas com mentalidade universal.

Não pensava pequeno, não que fosse um sujeito ambicioso no sentido pecuniário. Sua ambição era dar o melhor de si para o município, o estado, o país, em suma, à humanidade. Realmente não pautava sua vida para a obtenção de riqueza. Tanto é que exerceu diversos cargos que favorecem a pessoas desonestas enriquecerem-se ilicitamente, entretanto nunca foi acusado de corrupção. Até os adversários mais mesquinhos não ousaram imputar-lhe qualquer uso de um cargo público para beneficiar-se, porque sabiam que Pedro Paulo era inatacável.  Sua retidão de caráter impedia-o de cometer um deslize ético, ainda que fosse mínimo.

Pedro sempre foi altivo, inquieto. Quando ainda era um estudante já atuava em muitas frentes. Hoje está na moda falar em protagonismo juvenil.  Ele foi um jovem protagonista. Já no ginásio (hoje ensino fundamental) se destacou no movimento pela construção de um prédio próprio para o Ginásio Estadual de Ubatuba. Em seguida, fez parte do Grêmio Estudantil “28 de abril” que, na época, movimentou a vida social, esportiva e cultural de Ubatuba.  Depois pela vida afora continuou participando de atividades culturais, esportivas, de movimentos reivindicatórios, estudantis, da política brasileira, inclusive elegendo-se prefeito de Ubatuba   pelo PMDB.

Pedro conviveu e foi amigo de pessoas influentes na Política, na Ciência, no Esporte, no Cinema, na Academia, no Teatro, na Literatura, no Jornalismo, na Música, mas nunca fez desse invejável privilégio um motivo de vangloriar-se, de “se achar”.  Portava-se com a simplicidade e humildade que só os grandes homens (como ele o foi) são capazes. Tratava a todos com respeito, reconhecendo a dignidade humana de cada um independentemente da sua origem social.

Sempre bem humorado, tinha de memória uma vasta coleção de causos e anedotas protagonizados por ubatubenses das mais variadas estirpes. Muitas delas publicadas em jornais e depois reunidas no livro intitulado “Na Boca do Povo”.  Também foi cronista e articulista em diversos jornais e revistas, além de ter sido poeta e letrista de refinada sensibilidade.

Bom de prosa, como se costuma dizer, ilustrava suas aulas de Português com exemplos colhidos em sua convivência com todas as camadas sociais. Às vezes até com registros escritos, como por exemplo, uma cópia da entrevista que realizou Para um jornal de São José dos Campos com o poeta modernista Cassiano Ricardo, de quem era admirador e amigo.

Culto e de bom gosto, Pedro Paulo demonstrava essas qualidades (involuntariamente, diga-se.) até na sua residência, cuja arquitetura impressiona pela beleza interior, pelo conforto que proporciona e pelo aspecto modernista.  Certa vez um sobrinho fez esta divertida observação: “A casa tio Pledo não tem palede.”  Frase que Pedro Paulo gostava de repetir com saudades do pestinha  observador.

Além da notável estrutura, a decoração da casa atesta que ali morava uma pessoa de veia artística, que sabia combinar o belo com a praticidade.  Lá, recebia seus amigos com a generosidade e a simpatia que lhe eram peculiares.

A FundArt, com certeza, era a menina dos olhos de Pedro Paulo, não pela vaidade de ter sido ele o criador dessa instituição quando era prefeito de Ubatuba, mas sim porque visava ao desenvolvimento cultural de Ubatuba e considerava que a FundArt era o veículo mais apropriado para planejar e executar a política cultural do município. Como presidente, ele preferia dedicar mais atenção às oficinas culturais a sacrificar o exíguo orçamento da fundação patrocinando eventos sazonais, porque, segundo ele, “as oficinas deixam raízes”, coisa que os eventos não o fazem; eles têm importância principalmente como vitrines da administração.

Como bom gestor que era, não se abalava com as críticas. Numa entrevista a “O Guaruçá”, Pedro Paulo disse: “Críticas sempre existiram e existirão. Cabe selecionar as pertinentes e tomá-las como colaboração, corrigindo rumos.”

Pedro Paulo era um sonhador.  Confessou na supracitada entrevista: “Às vezes, perco o pé da realidade, mas se não sonhar, nem o mínimo a gente faz”.  Homem público que foi, seu sonho era voltado para o interesse coletivo, nunca para o pessoal.  Nesta esfera, considerava-se plenamente realizado.

Ouvindo-o falar de Matheus e Mariana, seus filhos, logo se percebia o amor, o carinho e a admiração que sentia por eles. Orgulhava-se da formação e do sucesso que ambos alcançaram em suas respectivas profissões. Ele, que passou a vida a dedicar-se ao bem-estar do próximo, só poderia estar felicíssimo vendo a boa situação em que os filhos se encontram.

Na última quinta-feira, dia 25, às 23 horas, faleceu, aos 79 anos, Pedro Paulo, vítima de um infarto fulminante.

Fonte: Jorge Ivam Ferreira  

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